ARQUEOLOGIA DE UM PORTO DE CINCO SÉCULOS.
Hoje fizemos uma incursão numa das mais curiosas localidades da área continental da orla vicentina: a VIVENDA DOS LOPES, que é vizinha - possivelmente uma parte desmembrada - do PORTO DAS NAUS, ALFÂNDEGA E ENGENHO DE JERÔNIMO LEITÃO.
Cinco séculos de muitas transformações e um dos pontos mais remotos da América.
O bairro Japuí também faz parte dessa antiga história, com outras ocupações comerciais e familiares. O lugar ainda guarda resquícios da colonização portuguesa.
A Vivenda dos Lopes, que hoje está em área dentro de um parque estadual, é ocupada pelos Rufino, família cujo genitor trabalhava no Curtume Cardamone. A Sra. Rufino, por sua vez, veio trabalhar nessa vivenda de Alípio Santos e Felicidade Santos Lopes, genitores de Armando, Olga e Alberto, este último ex-vereador e presidente da Câmara de S. Vicente.
Nossa presença na Vivenda dos Lopes foi motivada por um convite dos irmãos Rufino para avaliar os possíveis danos que a propriedade sofreria com a construção de uma ciclovia no local. A Vivenda fica exatamente em frente dos Porto das Naus. A operação de alargamento da calçada para a a construção da ciclovia colocou uma retro-escavadeira dentro da propriedade para fazer o rebaixamento do solo, que fica 2,5 metros acima da avenida Tupiniquins. Exatamente nesse ponto há um muro de contenção edificado com pedras cuja posição frontal com o Porto das naus pode conter vestígios da época colonial. O muro foi construído provavelmente antes da abertura da avenida Tupiniquins, que cortou o sítio ao meio. Não houve tempo para fazer uma prospecção mais detalhada do local, porém nessa primeira busca foram encontrados diversos vestígios da Vivenda e possivelmente alguns mais antigos, do período da construção da Ponte Pênsil e instalação dos dutos de esgoto que foram levados na margem da avenida Tupiniquins até a ponta do Itaipu em Praia Grande.
Hoje há entre os irmãos Rufino, atuais ocupantes da Vivenda, uma certa apreensão sobre o futuro do bairro, da moradia deles e também do Porto das Naus, em completo abandono. E perguntam: "Vamos sobreviver? Nossa história -que se confunde com esse local há 70 anos -terá o mesmo valor histórico desse lugar"?
Vinícius Názara Valino e Dalmo Duque dos Santos - Pesquisadores.















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A BAIRRO DO JAPUÍ
Antes da construção da Ponte Pênsil, ligando a ilha de São Vicente (morro dos Barbosas) ao continente, bairros do Japuís e Praia Grande, a travessia era feita por meio barcos no Porto Tumiaru, no Mar Pequeno; e também na garagem náutica do E.C. Tumiaru, que fica exatamente onde foi erigida a ponte, lado ilha. Esse caminho para Praia Grande é atual e pavimentada avenida Tupiniquins. O quadro acima, do pintor Corrêa, mostra o caminho Japui-Praia Grande, próximo à ponte, com as árvores conhecidas como Três Marias. Acervo familiar: Cristiano Pires.
O Japui em 1962: em primeiro plano, o continente com a vila e marinas; e acima o morro e baía de São Vicente.
É um dos bairros mais antigos da cidade, senão o mais antigo, pois existe desde a época pré-colonial, se for considerada a tese de que o Porto dos Escravos e das Naus, cujas ruínas estão lá até hoje, foi o início da nossa história. Pode ser que essas ruínas sejam também as do Engenho de Jerônimo Leitão. Ali já foi encontrada uma moeda de ouro e, em algumas escavações feitas por arqueólogos, foram encontrados vestígios de ocupação comercial no século XVI.
O Japuí é a porta de entrada e um antigo caminho para a área continental, ligando pela Ponte Pênsil, a cidade ao ex-bairro Praia Grande e as cidades do litoral sul, também antigos territórios de São Vicente.
É no Japuí que está a Prainha, da qual vemos a baía de São Vicente do ponto de vista continental, dando acesso também às praias de Parapuã e Itaquitanduva. A Prainha é hoje habitada tanto por moradores de alto poder aquisitivo como por populares, que se instalaram junto ao morro ali existente.
Foi neste bairro que foi construído, no lado do morro, o famoso Curtume Cardamone, cujas ruínas ficam dentro do Parque Estadual Xixová. Na Praia de Paranapuã já teve uma unidade da FEBEM fundação para o Bem Estar do Menor, na década de 1970; e a ocupação de grupos indígenas vindos de Itanhaém para participarem de uma encenação e ali se instalaram como forma de retomada territorial. Em 1913 praticamente toda essa área pertencia ao agricultor e comerciante Antônio Luiz Barreiros, imigrante português que desenvolveu ali uma vasta plantação de banana, cuja produção era levada por caminhões até o porto de Santos. Barreiros também possuía plantações na Esplanada os Barreiros, na área insular.
No lado da orla do Mar Pequeno, na avenida Tupiniquins, da cabeceira da Ponte Pênsil até a divisa com Praia Grande, quase invisível aos transeuntes, estão as sedes e instalações náuticas dos antigos clubes vicentinos como o Tumiaru e o Beira-Mar, bem como o Yatch Clube de São Vicente e algumas marinas particulares.
A pequena vila do Japui, se comparada com os demais bairros vicentinos, tem poucas ruas e casas, permanecendo isolada tanto de São Vicente quanto de Praia Grande, embora seja pouca a distância do bairro entre as duas cidades. É uma pequena faixa de terra entre o morro e o mar, incluindo uma grande área de proteção ambiental, o que, de certa forma, inibe o desenvolvimento urbano dessa localidade. Alguns moradores gostariam que o Japuí se desenvolvesse e até anexado à Praia Grande; outros são contrário tanto à ideia de desenvolvimento como da anexação.
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"Turistas" fotografados apreciando os arredores da Ponte Pênsil nos Anos 1950. Estão na ilha ou no continente? Na imagem, feita por alguém próximo da família, aparece o vereador e advogado Dr. Alberto Lopes usando um binóculo. O acesso de onde foi tirada essa foto, se dava por uma trilha que se iniciava na casa do Dr. Alberto que fica em frente ao Porto das Naus". Identificação feita por Luciano Azevedo, amigo da família Lopes.
JAPUÍ
NOEMI FRANCESCA DE MACEDO
Para apaixonados pela "terra onde se nasce", o Japuí é o bairro mais antigo e mais belo de São Vicente. Assim define o advogado Alberto Lopes dos Santos que, embora não tenha nascido naquele local, ali reside há 72 anos.
Afinal, o bairro, por sua localização após a Ponte Pênsil, demonstra seu pioneirismo através das ruínas do Porto das Naus, considerado o mais antigo monumento histórico da região. Rico em belezas naturais, o bairro é quase uma ilha. Quem vê o Japuí a partir da área central do município de São Vicente, a primeira impressão que tem é de que se trata de um quadro com fundo verde (o Morro de Paranapuã e as centenas de árvores), pontilhado de casas em direção ao Mar Pequeno, que seria a moldura dessa obra-prima da natureza.
Antes da construção da Ponte Pênsil em 1914, para atingir o Japuí a travessia era feita em canoas. Mesmo assim, já funcionava no local um próspero vilarejo, em razão da existência de uma das mais famosas indústrias da época, o Curtume de São Vicente, que produzia o melhor couro do mundo.
Os viajantes em direção ao litoral também atravessavam seus animais (cavalos) em embarcações e, depois de descansar no Japuí, seguiam viagem.
No Japuí, a cerca de 300 metros da Ponte Pênsil, estão asa ruínas conhecidas como Porto das Naus, que alguns historiadores afirmam datarem dos primórdios da fundação do município vicentino, embora muitas sejam as controvérsias sobre o assunto.
Segundo o pesquisador frei Gaspar, em 1920 muitas pessoas ainda teimavam que todos os navios, antigamente, entravam pela barra com fundo para o Porto Tumiaru onde está a cabeceira da Ponte Pênsil, junto ao Morro dos Barbosas). À frente, no Porto das Naus, já em terra firme, podiam ser avistados os alicerces do trapiche alfandegário. Até hoje o Porto das Naus é conhecido como antigo ancoradouro das naus do tempo de Martim Afonso. Infelizmente, as ruínas estão sumindo, embora a área tenha sido tombada pelo Condephaat.
Do lado esquerdo, à entrada do Japuí, está a Avenida Saturnino de Brito, que leva a uma das praias mais bonitas da região: a de Paranapuã, ou Praia das Vacas. As casas nessa avenida terminam em direção às várias prainhas formadas por molhes, no Mar Pequeno, em frente à Praia de São Vicente.
O Japuí é um colírio para os olhos e uma festa pra o coração
UMA DECLARAÇÃO DE AMOR ETERNO
Dr. Alberto Lopes dos Santos, advogado, ex-vereador (várias legislaturas), presidente da Câmara de São Vicente, aos 76 anos confessa sua grande paixão: o bairro do Japuí. Morando há 72 anos no mesmo local, em frente ao Porto das Naus, ali pertinho do curtume, o dr. Alberto afirma: "Aqui é o melhor lugar do mundo e pouca coisa mudou desde que vim para cá. Só o movimento dos carros alterou nossa rotina e naturalmente o loteamento da Avenida Saturnino de Brito há muitos anos. E um fato triste: o abandono, e quase que desaparecimento total, do ponto histórico mais antigo de que se tem conhecimento, que é o Porto das Naus".
Conta o advogado, que nasceu em Santos, que seus pais (portugueses) mudaram para o Japuí logo depois da inauguração da Ponte Pênsil. "Era uma maravilha correr na ponte, onde a gente brincava apesar das perseguições do guardião. Meu pai abriu um bar na Avenida Tupiniquins e, ao lado, construiu um caramanchão. Ali, todas as noites, os trabalhadores do curtume iam jogar conversa fora.
"A população era pequena e a Avenida Saturnino de Brito era apenas o ponto de ligação com a prainha (Paranapuã). Quando moço. integrei a primeira equipe de pingue-pongue do Esporte Clube Beira-Mar, cuja sede fica no centro da cidade. Sempre andei a pé e, às vezes, voltava do clube, bem como da Câmara, lá pela meia-noite. Apesar das histórias de assombração, o Japuí nunca me pregou um susto".
Fonte: São Vicente - 1532-1992, com pesquisa e texto da jornalista Noemi Francesca de Macedo, editora do jornal Espaço Aberto), Digitalizado e publicado por Carlos Pimentel no site Novo Milênio
" Prefeito e vereadores na posse de 1956:
Alberto Lopes dos Santos, Antonio Bueno Capoluso, D. Angelina Pretti da Silva, Antonio Conceição Filho, Cremiro Azevedo, Carlos Menezes Tavares, Jaime Pinheiro Guimarães, José Rosindo Filho, João Camilo Ferreira, José Gomes Henriques, Lourival Moreira do Amaral, Nelson Parente, Nicolino Simone Filho, Oswaldo Marques, Oswaldo Toschi, Rafael Faro Politi e Raul Vasques Rios. O prefeito Luiz Beneditino Ferreira (o quinto da direita para a esquerda na fila debaixo) e o vice-prefeito o Coronel Justiniano de Vasconcelos Passos (não se encontra na foto) "
Fonte: Jornal Vicentino
O ACERVO FOTOGRÁFICO DO DR. ALBERTO LOPES